Nessa Quinta-feira
dois grandes filmes indicados ao Oscar chegaram ao cinema. Um deles foi "The
Post – A guerra secreta", escrito por Liz Hannah e Josh Singer e dirigido por
Steven Spilberg. O filme com 88% de aprovação no Rotten tomatoes traz no elenco
nomes como Meryl Streep e Tom Hanks. Desde já aviso que esse artigo contém
Spoilers do filme. Veja por sua conta e risco.
Sinopse
Baseado em fatos
reais, “The Post – A guerra secreta” conta a historia por trás dos vazamentos
de um documento secreto dos Estados Unidos com informações sobre a Guerra do
Vietnã. Em meio ao maior escândalo político da década de 70, a proprietária do
The Washingon Post, Kay Graham (Meryl Streep) e o editor Ben Bradlee (Tom Hanks)
tem pouco tempo para decidir se devem publicar os documentos sobre as mentiras contadas ao povo americano acerca
da guerra do Vietnã, desafiando o governo e arriscando perder o jornal.
Uma história precisa de conflito
Um dos pontos
fortes do filme é o conflito de interesses entre os dois protagonistas.
Enquanto Ben deseja a todo custo publicar os documentos, Kay prefere permanecer
calada, principalmente por ser uma velha amiga do secretário de defesa que será
prejudicado com a publicação.
Esse conflito entre
os protagonistas deixa o drama mais vivo e intenso. Os dois personagens tem
visões e opiniões divergentes, mas eles precisam trabalhar juntos e cooperar
para solucionar o problema. Cada um deles tem seus próprios motivos e
convicções que tentam defender a fim de tomarem uma decisão definitiva.
O tempo limitado
que dispõem deixa a situação ainda mais delicada. Eles precisam tomar essa
decisão nas próximas horas, antes do fechamento da redação. A importância da
matéria traz uma grande carga aos ombros dos dois.
A devoção de Ben à imprensa
Logo no inicio do
filme, vemos como Ben é devotado ao seu trabalho e como se preocupa em estar à
frente dos demais jornais. Sua maior preocupação é o fato de que o New York
Times sempre está um passo à frente do Washington Post. Quando os Times
publicaram antes de todo mundo os documentos do Pentágono, Ben ficou
profundamente frustrado por que a matéria de capa deles era o casamento da filha do presidente Nixon. Ele
quer desesperadamente se destacar em sua área e fazer de seu jornal o jornal
mais importante dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo,
vemos como o personagem é devotado à liberdade de expressão da imprensa. Quando
somos apresentados à ele, Ben está lidando com o fato de que sua equipe está proibida
de entrar no casamento da filha de Nixon. A solução de Ben é entrar em contato com outros
jornais e pedir suas anotações, informando que sua equipe foi barrada. Sua
justifica para que os outros jornais ajudem é que “O único modo de proteger o
direito de publicar é publicando”. Essa frase define o caráter de Ben. Ele quer
proteger o direito da mídia de publicar qualquer coisa.
A vontade de
alavancar o Washington Post e sua devoção à liberdade da imprensa é o que move
Ben a querer publicar os arquivos vazados sobre o pentágono, mesmo que isso
ponha em risco sua carreira, o jornal ou sua liberdade propriamente dita. Quando o presidente Nixon proíbe o New York Times a publicarem qualquer coisa a respeito dos documentos do Pentágono, Ben vê isso como uma oportunidade para o Washington Post voltar ao jogo, ao invés de se afastar do problema.
A delicada situação de Kay
Kay, por outro
lado, não deseja publicar os artigos devido sua situação social. Ela é uma
velha amiga do secretário da defesa e responsável por todo o escândalo. Publicar
as informações vazadas vai prejudicar seu amigo e colocá-la em uma situação
ruim perante todos seus outros amigos da Casa Branca. Aqui temos um conflito moral.
Ela sabe que o ministro é culpado e não se agrada das decisões tomadas, mas não
quer o mal do mesmo.
Além dessa questão,
Kay é a primeira mulher a liderar o jornal, em uma industria monopolizada pelo sexo masculino, e tem diversos obstáculos diante
disso. Os demais membros do conselho do jornal desaprovam e duvidam de sua
capacidade de liderar. Eles confiavam em seu pai e seu marido, mas após o
suicido desse ultimo ela acabou herdando responsabilidades que não deseja.
Contudo, ela quer que a liderança permaneça na família e fará o que for preciso
para permanecer na liderança.
Ela está abrindo as
ações do Washington Post na bolsa de valores a um preço baixo, dando uma
diferença de 3 milhões de dólares a menos nos lucros. Vemos ela ensaiando para
a reunião com os demais membros do conselho para justificar suas decisões. No
entanto, durante a reunião ela é pressionada pelos mesmos e não tem voz. Sua
liderança é constantemente questionada e os investidores ameaçam retirar seu
capital.
Um fator a ser considerado a respeito do valor das ações é que is investidores querem mais qualidade nos artigos do jornal para ter mais lucro. Com as informações
do Pentagono ela tem a oportunidade de transformar o Washington Post em um
importante jornal ao invés de um jornal local, mas sua situação delicada a
impede de tomar uma decisão tão ousada. Apostar no artigo é arriscar perder também os investidores caso o plano não de certo.
Exaltação ao feminismo
Não é errado
afirmar que o arco dramático de Kay faz um diálogo com movimentos feministas.
Vemos isso não apenas nas duvidas dos demais personagens em sua liderança, mas
também em diversas cenas. Como o fato dela ser a única mulher nas reuniões do
conselho.
Na primeira dessas
reuniões, seu único amigo na sala e conselheiro faz uma piada com os demais
membros: “E eu era o único a fazer o dever de casa”. Isso deixa algo
subentendido para o público. Com os proprietários anteriores ninguém se
preocupava em trazer anotações ou se preparar. Eles confiavam no pai e no
marido de Kay. Mas com ela é diferente. Eles não a querem sentada na principal
cadeira.
Outra cena a respeito disso está na conclusão do filme. Quando os donos do New York
Times são cercados por outros repórteres, Kay segue tranquilamente (os
repórteres não estão interessados na opinião de uma mulher) entre uma fila de
várias outras mulheres cercando-a e admirando-a.
No entanto, apesar
desse viés feminista vemos poucas mulheres com posição de destaque ou alguma
importância no filme, apesar do fato do filme se passar em uma época em que a
indústria do jornalismo era dominada por homens, outras personagens como a
esposa de Ben ou a filha de Kay poderiam ser melhor exploradas. No fim das
contas apenas Kay tem alguma posição importante na trama.
Arco dos personagens
É interessante
notar a transformação dos dois protagonistas do começo ao final do filme. Kay,
que não conseguia se impor perante os outros donos do Post se revela durante o ponto de virada do segundo e no clímax terceiro ato. No segundo ato quando contraria seu
conselheiro, dando autoridade à Ben de publicar a polêmica matéria. E no
terceiro ato quando os demais diretores a pressionam para voltar atrás e ela
mantém o pulso firme esclarecendo que aquela é sua companhia dizendo que se alguém pensa o contrário não merece fazer parte do conselho do Washington Post.
Já Ben tem sua
transformação após saber que ao publicar a matéria todos podem ser presos. Seu
diálogo com sua esposa, que até então não tinha muita relevância na
história, o faz perceber o quanto tem sido egoísta e ignorado a situação de
Kay.
Então ele faz algo
que vai contra suas atitudes até o momento: Avisa Kay das consequências e
humildemente declara que entende sua posição e respeitará sua decisão. Até
então, Ben passava por cima de Kay, ignorando os pedidos dela para não investir
na matéria.
The Post fala não
apenas sobre liberdade de imprensa, mas também sobre conflitos de interesses. O
trabalho de Liz Hanna no enredo é bem completo e profundo. Ela trabalha bem os protagonistas e suas convicções.
The Post – A guerra
secreta está concorrendo nas categorias de melhor filme e melhor atriz (Meryl
Streep) no Oscar desse ano e estreou nos cinemas brasileiros na ultima
Quinta-feira (01) e é um bom filme para quem gosta de Thriller com um drama histórico e conflitos tensos.
E você? O que achou do filme? Adoraria saber sua opinião. Se você gostou desse artigo peço humildemente para compartilhá-lo ou pode me dar um feedback nos comentários ou via e-mail.
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