google.com, pub-0226795176202024, DIRECT, f08c47fec0942fa0 The Post: Liberdade de expressão e conflitos de interesse - Marcos Bossolon

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

The Post: Liberdade de expressão e conflitos de interesse

Nessa Quinta-feira dois grandes filmes indicados ao Oscar chegaram ao cinema. Um deles foi "The Post – A guerra secreta", escrito por Liz Hannah e Josh Singer e dirigido por Steven Spilberg. O filme com 88% de aprovação no Rotten tomatoes traz no elenco nomes como Meryl Streep e Tom Hanks. Desde já aviso que esse artigo contém Spoilers do filme. Veja por sua conta e risco.




Sinopse

Baseado em fatos reais, “The Post – A guerra secreta” conta a historia por trás dos vazamentos de um documento secreto dos Estados Unidos com informações sobre a Guerra do Vietnã. Em meio ao maior escândalo político da década de 70, a proprietária do The Washingon Post, Kay Graham (Meryl Streep) e o editor Ben Bradlee (Tom Hanks) tem pouco tempo para decidir se devem publicar os documentos sobre as mentiras contadas ao povo americano acerca da guerra do Vietnã, desafiando o governo e arriscando perder o jornal.

Uma história precisa de conflito


Um dos pontos fortes do filme é o conflito de interesses entre os dois protagonistas. Enquanto Ben deseja a todo custo publicar os documentos, Kay prefere permanecer calada, principalmente por ser uma velha amiga do secretário de defesa que será prejudicado com a publicação.

Esse conflito entre os protagonistas deixa o drama mais vivo e intenso. Os dois personagens tem visões e opiniões divergentes, mas eles precisam trabalhar juntos e cooperar para solucionar o problema. Cada um deles tem seus próprios motivos e convicções que tentam defender a fim de tomarem uma decisão definitiva.

O tempo limitado que dispõem deixa a situação ainda mais delicada. Eles precisam tomar essa decisão nas próximas horas, antes do fechamento da redação. A importância da matéria traz uma grande carga aos ombros dos dois.

A devoção de Ben à imprensa


Logo no inicio do filme, vemos como Ben é devotado ao seu trabalho e como se preocupa em estar à frente dos demais jornais. Sua maior preocupação é o fato de que o New York Times sempre está um passo à frente do Washington Post. Quando os Times publicaram antes de todo mundo os documentos do Pentágono, Ben ficou profundamente frustrado por que a matéria de capa deles era o casamento da filha do presidente Nixon. Ele quer desesperadamente se destacar em sua área e fazer de seu jornal o jornal mais importante dos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, vemos como o personagem é devotado à liberdade de expressão da imprensa. Quando somos apresentados à ele, Ben está lidando com o fato de que sua equipe está proibida de entrar no casamento da filha de Nixon. A solução de Ben é entrar em contato com outros jornais e pedir suas anotações, informando que sua equipe foi barrada. Sua justifica para que os outros jornais ajudem é que “O único modo de proteger o direito de publicar é publicando”. Essa frase define o caráter de Ben. Ele quer proteger o direito da mídia de publicar qualquer coisa.

A vontade de alavancar o Washington Post e sua devoção à liberdade da imprensa é o que move Ben a querer publicar os arquivos vazados sobre o pentágono, mesmo que isso ponha em risco sua carreira, o jornal ou sua liberdade propriamente dita. Quando o presidente Nixon proíbe o New York Times a publicarem qualquer coisa a respeito dos documentos do Pentágono, Ben vê isso como uma oportunidade para o Washington Post voltar ao jogo, ao invés de se afastar do problema.

A delicada situação de Kay


Kay, por outro lado, não deseja publicar os artigos devido sua situação social. Ela é uma velha amiga do secretário da defesa e responsável por todo o escândalo. Publicar as informações vazadas vai prejudicar seu amigo e colocá-la em uma situação ruim perante todos seus outros amigos da Casa Branca. Aqui temos um conflito moral. Ela sabe que o ministro é culpado e não se agrada das decisões tomadas, mas não quer o mal do mesmo.

Além dessa questão, Kay é a primeira mulher a liderar o jornal, em uma industria monopolizada pelo sexo masculino, e tem diversos obstáculos diante disso. Os demais membros do conselho do jornal desaprovam e duvidam de sua capacidade de liderar. Eles confiavam em seu pai e seu marido, mas após o suicido desse ultimo ela acabou herdando responsabilidades que não deseja. Contudo, ela quer que a liderança permaneça na família e fará o que for preciso para permanecer na liderança.

Ela está abrindo as ações do Washington Post na bolsa de valores a um preço baixo, dando uma diferença de 3 milhões de dólares a menos nos lucros. Vemos ela ensaiando para a reunião com os demais membros do conselho para justificar suas decisões. No entanto, durante a reunião ela é pressionada pelos mesmos e não tem voz. Sua liderança é constantemente questionada e os investidores ameaçam retirar seu capital.

Um fator a ser considerado a respeito do valor das ações é que  is investidores querem mais qualidade nos artigos do jornal para ter mais lucro. Com as informações do Pentagono ela tem a oportunidade de transformar o Washington Post em um importante jornal ao invés de um jornal local, mas sua situação delicada a impede de tomar uma decisão tão ousada. Apostar no artigo é arriscar perder também os investidores caso o plano não de certo. 

Exaltação ao feminismo

Não é errado afirmar que o arco dramático de Kay faz um diálogo com movimentos feministas. Vemos isso não apenas nas duvidas dos demais personagens em sua liderança, mas também em diversas cenas. Como o fato dela ser a única mulher nas reuniões do conselho.



Na primeira dessas reuniões, seu único amigo na sala e conselheiro faz uma piada com os demais membros: “E eu era o único a fazer o dever de casa”. Isso deixa algo subentendido para o público. Com os proprietários anteriores ninguém se preocupava em trazer anotações ou se preparar. Eles confiavam no pai e no marido de Kay. Mas com ela é diferente. Eles não a querem sentada na principal cadeira.

Outra cena a respeito disso está na conclusão do filme. Quando os donos do New York Times são cercados por outros repórteres, Kay segue tranquilamente (os repórteres não estão interessados na opinião de uma mulher) entre uma fila de várias outras mulheres cercando-a e admirando-a.


No entanto, apesar desse viés feminista vemos poucas mulheres com posição de destaque ou alguma importância no filme, apesar do fato do filme se passar em uma época em que a indústria do jornalismo era dominada por homens, outras personagens como a esposa de Ben ou a filha de Kay poderiam ser melhor exploradas. No fim das contas apenas Kay tem alguma posição importante na trama.

Arco dos personagens

É interessante notar a transformação dos dois protagonistas do começo ao final do filme. Kay, que não conseguia se impor perante os outros donos do Post se revela durante o ponto de virada do segundo e no clímax terceiro ato. No segundo ato quando contraria seu conselheiro, dando autoridade à Ben de publicar a polêmica matéria. E no terceiro ato quando os demais diretores a pressionam para voltar atrás e ela mantém o pulso firme esclarecendo que aquela é sua companhia dizendo que se alguém pensa o contrário não merece fazer parte do conselho do Washington Post.

Já Ben tem sua transformação após saber que ao publicar a matéria todos podem ser presos. Seu diálogo com sua esposa, que até então não tinha muita relevância na história, o faz perceber o quanto tem sido egoísta e ignorado a situação de Kay.

Então ele faz algo que vai contra suas atitudes até o momento: Avisa Kay das consequências e humildemente declara que entende sua posição e respeitará sua decisão. Até então, Ben passava por cima de Kay, ignorando os pedidos dela para não investir na matéria.


The Post fala não apenas sobre liberdade de imprensa, mas também sobre conflitos de interesses. O trabalho de Liz Hanna no enredo é bem completo e profundo. Ela trabalha bem os protagonistas e suas convicções. 

The Post – A guerra secreta está concorrendo nas categorias de melhor filme e melhor atriz (Meryl Streep) no Oscar desse ano e estreou nos cinemas brasileiros na ultima Quinta-feira (01) e é um bom filme para quem gosta de Thriller com um drama histórico e conflitos tensos.


E você? O que achou do filme? Adoraria saber sua opinião. Se você gostou desse artigo peço humildemente para compartilhá-lo ou pode me dar um feedback nos comentários ou via e-mail.

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