google.com, pub-0226795176202024, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Me Chame pelo seu nome e a arte de mostrar ao invés de falar - Marcos Bossolon

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Me Chame pelo seu nome e a arte de mostrar ao invés de falar

Existe uma frase que muitos escritores, roteiristas e cineastas repetem como mantra: “Mostre ao invés de falar”. Isso significa que um escritor precisa economizar diálogos e utilizar mais da ação e expressão corporal dos personagens. Ou seja, ao invés de alguém dizer: “Estou apaixonado por você”, devemos mostrar, através das ações essa paixão.

É exatamente isso que “Me chame pelo seu nome”, o longa escrito por James Ivory, baseado no romance de André Aciman e dirigido por Luca Guadagnino. O filme indicado ao Oscar de melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor ator é aclamado pela crítica.


Sinopse

No verão de 1983 no norte da Itália, Elio Perlman (Timothée Chalamet) um jovem sofisticado e intelectual de 17 anos aproveita seus dias preguiçosos na casa dos pais. Mas quando o acadêmico Oliver (Armie Hammer) chega em sua residência para ajudar o pai de Elio com sua pesquisa, Elio passa a descobrir sentimentos que antes desconhecia.

Mais ação, menos diálogos.

Ao invés de usar diálogos românticos e provocantes no filme para florescer a paixão no casal, o roteirista e o diretor optaram por utilizar da expressão corporal, das imagens e de gestos para deixar no ar o que estava acontecendo entre os personagens. Tanto que na versão final do filme tem menos diálogo que no roteiro original, optando por cortar as falas de um narrador, presente no roteiro, mas que não existe no filme.

Mas tanto na montagem final como no roteiro, vemos a preocupação maior em descrever as cenas do que em desenvolver os diálogos. Diferente da grande maioria dos roteiros para cinema, o roteiro de “Me chame pelo seu nome” tem parágrafos grandes e detalhistas. Isso é importante para esse tipo de filme que fala sobre o primeiro amor ou a paixão de um jovem. Tento que algumas falas nem são descrita como diálogos no roteiro (com o nome do personagem e a fala logo abaixo), mas são colocadas ao longo do paragrafo da ação.

Em meio a tantas ações e detalhes, os diálogos fluem naturalmente. E até mesmo nos diálogos vemos detalhes não falados verbalmente. Os personagens não são objetivos. Eles não falam exatamente o que querem falar, deixando, na maioria das vezes, insinuações do que estão sentindo. Exatamente como acontece conosco quando flertamos, mas temos medo de assumir diretamente o que sentimos.

Além disso os atores mandam muito bem no corpo, deixando que o corpo expresse o que eles estão sentindo. Como quando Elio balança os braços conversando com Oliver na cidade, ou quando ele tenta impressioná-lo ao tocar piano fazendo várias caras e bocas como se estivesse arrasando (algo que ele não faz em e nenhum outro momento quando toca piano para seus pais ou convidados). Aliás, toda a sequencia da cena do piano merece ser estudada, mas pretendo deixar isso para um artigo futuro.


Ta rolando ou não ta rolando?

Assim como a preferencia pelas ações ao invés de falar sobre seus sentimentos, o filme deixa no ar situações que podem ou não serem interpretadas como flertes. O relacionamento e as provocações entre os personagens deixam no ar a dúvida: Eles estão flertando ou só conversando mesmo? E tudo isso torna o filme mais belo, fácil de se identificar.

Por tratar do primeiro amor de um garoto, essas situações se assemelham muito ao primeiro amor de cada um de nós. Em que queremos dizer o que sentimos, mas ao invés disso, jogamos no ar situações com segundas intenções. Em diversos momentos do filme nos perguntamos se o que o personagem disse é realmente o que achamos ou não.

Como na cena em que Elio olha Oliver nadando. Oliver pergunta o que Elio está fazendo e ele responde com “lendo minha musica”. E nesse momento começa um dialogo que sugere um flerte:

OLIVER
                 Não você não está.
ELIO
Pensando, então.
OLIVER
                   Sobre?
ELIO
Privado.
    ANNELIA, divertindo-se, escuta a conversa.
OLIVER
                 Então você não vai me contar?
ELIO
Então eu não vou te contar.

É interessante notar nessa cena que, no filme, Elio sorri discretamente quando responde o que ele está pensando é privado, deixando no ar para o público deduzir sobre o que, ou quem, ele está pensando.

Ao mesmo tempo em que o flerte fica no ar, também fica no ar se os demais personagens sabem ou não sabem sobre o relacionamento. Nada é dito verbalmente no inicio. Tudo é levado através de detalhes na ação e no corpo. Aliás, fica a dica de leitura: “O Corpo fala” de Pierre Weil e Roland Tompakow. O filme usa e abusa da linguagem não-verbal do corpo.

Relacionamento que se desenvolve com o tempo

É interessante notar como o relacionamento dos dois se desenvolve gradualmente. De inicio, vemos um Elio mais intimidado com a presença de Oliver. Como na cena em que Oliver massageia o ombro de Elio e este se afasta tenso. Ou quando o pai de Elio diz que ele vai acabar gostando de Oliver e ele responde com: “E se eu acabar odiando ele?”.



O relacionamento dos dois vão fluindo e vemos como a situação muda, naturalmente com o tempo. Se antes Elio sentia-se desconfortável quando Oliver apertou seu ombro, mais tarde, os toques aumentam até o ponto em que Oliver massageia os pés de Elio. A distância que eles mantinham entre si dá espaço para aproximação com momentos em que Elio pula em Oliver abraçando-o como um garoto apaixonado.

Depois que Elio finalmente se declara para Olvier (sem exatamente dizer as palavras específicas) as coisas se tornam mais intensas. O romance aparece e o relacionamento se desenvolve cada vez mais. E se isso não é o bastante, preciso adicionar um elogio à trilha sonora que complementa as cenas e os sentimentos dos personagens.


Me chame pelo seu nome é um filme que fala sobre o primeiro amor de alguém, com situações comuns que fazem parte do primeiro amor de qualquer um. O diretor e os atores fazem um belo uso das expressões corporais deixando o corpo e as ações falarem mais que os diálogos.



Me chame pelo seu nome estreou dia 18 de Janeiro nos Cinemas e recebeu três indicações ao Oscar.

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