Existe uma frase que muitos
escritores, roteiristas e cineastas repetem como mantra: “Mostre ao invés de falar”. Isso significa que um escritor precisa economizar diálogos e utilizar
mais da ação e expressão corporal dos personagens. Ou seja, ao invés de alguém
dizer: “Estou apaixonado por você”, devemos mostrar, através das ações essa
paixão.
É exatamente isso que “Me chame
pelo seu nome”, o longa escrito por James Ivory, baseado no romance de André
Aciman e dirigido por Luca Guadagnino. O filme indicado ao Oscar de melhor
filme, melhor roteiro adaptado e melhor ator é aclamado pela crítica.
Sinopse
No verão de 1983 no norte da Itália,
Elio Perlman (Timothée Chalamet) um jovem sofisticado e intelectual de 17 anos
aproveita seus dias preguiçosos na casa dos pais. Mas quando o acadêmico Oliver
(Armie Hammer) chega em sua residência para ajudar o pai de Elio com sua
pesquisa, Elio passa a descobrir sentimentos que antes desconhecia.
Mais ação, menos diálogos.
Ao invés de usar diálogos
românticos e provocantes no filme para florescer a paixão no casal, o
roteirista e o diretor optaram por utilizar da expressão corporal, das imagens
e de gestos para deixar no ar o que estava acontecendo entre os personagens. Tanto
que na versão final do filme tem menos diálogo que no roteiro original, optando
por cortar as falas de um narrador, presente no roteiro, mas que não existe no
filme.
Mas tanto na montagem final como
no roteiro, vemos a preocupação maior em descrever as cenas do que em
desenvolver os diálogos. Diferente da grande maioria dos roteiros para cinema,
o roteiro de “Me chame pelo seu nome” tem parágrafos grandes e detalhistas.
Isso é importante para esse tipo de filme que fala sobre o primeiro amor ou a
paixão de um jovem. Tento que algumas falas nem são descrita como diálogos no roteiro
(com o nome do personagem e a fala logo abaixo), mas são colocadas ao longo do
paragrafo da ação.
Em meio a tantas ações e
detalhes, os diálogos fluem naturalmente. E até mesmo nos diálogos vemos
detalhes não falados verbalmente. Os personagens não são objetivos. Eles não
falam exatamente o que querem falar, deixando, na maioria das vezes,
insinuações do que estão sentindo. Exatamente como acontece conosco quando
flertamos, mas temos medo de assumir diretamente o que sentimos.
Além disso os atores mandam muito
bem no corpo, deixando que o corpo expresse o que eles estão sentindo. Como
quando Elio balança os braços conversando com Oliver na cidade, ou quando ele
tenta impressioná-lo ao tocar piano fazendo várias caras e bocas como se
estivesse arrasando (algo que ele não faz em e nenhum outro momento quando toca
piano para seus pais ou convidados). Aliás, toda a sequencia da cena do piano
merece ser estudada, mas pretendo deixar isso para um artigo futuro.
Ta rolando ou não ta rolando?
Assim como a preferencia pelas
ações ao invés de falar sobre seus sentimentos, o filme deixa no ar situações
que podem ou não serem interpretadas como flertes. O relacionamento e as
provocações entre os personagens deixam no ar a dúvida: Eles estão flertando ou
só conversando mesmo? E tudo isso torna o filme mais belo, fácil de se
identificar.
Por tratar do primeiro amor de um
garoto, essas situações se assemelham muito ao primeiro amor de cada um de nós.
Em que queremos dizer o que sentimos, mas ao invés disso, jogamos no ar
situações com segundas intenções. Em diversos momentos do filme nos perguntamos
se o que o personagem disse é realmente o que achamos ou não.
Como na cena em que Elio olha
Oliver nadando. Oliver pergunta o que Elio está fazendo e ele responde com “lendo
minha musica”. E nesse momento começa um dialogo que sugere um flerte:
OLIVER
Não você não está.
ELIO
Pensando,
então.
OLIVER
Sobre?
ELIO
Privado.
ANNELIA, divertindo-se, escuta a conversa.
OLIVER
Então você não vai me contar?
ELIO
Então
eu não vou te contar.
É interessante notar nessa cena que, no filme, Elio sorri discretamente quando responde o que ele está pensando é privado, deixando no ar para o público deduzir sobre o que, ou quem, ele está pensando.
Ao mesmo tempo em que o
flerte fica no ar, também fica no ar se os demais personagens sabem ou não
sabem sobre o relacionamento. Nada é dito verbalmente no inicio. Tudo é levado
através de detalhes na ação e no corpo. Aliás, fica a dica de leitura: “O Corpo fala” de Pierre Weil e Roland Tompakow. O filme usa e abusa da linguagem
não-verbal do corpo.
Relacionamento que se desenvolve com o tempo
É interessante notar como o
relacionamento dos dois se desenvolve gradualmente. De inicio, vemos um Elio
mais intimidado com a presença de Oliver. Como na cena em que Oliver massageia
o ombro de Elio e este se afasta tenso. Ou quando o pai de Elio diz que ele vai
acabar gostando de Oliver e ele responde com: “E se eu acabar odiando ele?”.
O relacionamento dos dois vão
fluindo e vemos como a situação muda, naturalmente com o tempo. Se antes Elio
sentia-se desconfortável quando Oliver apertou seu ombro, mais tarde, os toques
aumentam até o ponto em que Oliver massageia os pés de Elio. A distância que
eles mantinham entre si dá espaço para aproximação com momentos em que Elio pula
em Oliver abraçando-o como um garoto apaixonado.
Depois que Elio finalmente se declara
para Olvier (sem exatamente dizer as palavras específicas) as coisas se tornam
mais intensas. O romance aparece e o relacionamento se desenvolve cada vez
mais. E se isso não é o bastante, preciso adicionar um elogio à trilha sonora
que complementa as cenas e os sentimentos dos personagens.
Me chame pelo seu nome é um filme
que fala sobre o primeiro amor de alguém, com situações comuns que fazem parte
do primeiro amor de qualquer um. O diretor e os atores fazem um belo uso das
expressões corporais deixando o corpo e as ações falarem mais que os diálogos.
Me chame pelo seu nome estreou
dia 18 de Janeiro nos Cinemas e recebeu três indicações ao Oscar.
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