google.com, pub-0226795176202024, DIRECT, f08c47fec0942fa0 A forma da água é uma história de amor fantástica - Marcos Bossolon

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A forma da água é uma história de amor fantástica

Falta menos de um mês para a cerimônia do Oscar e eu sigo, ao longo de Fevereiro, estudando e escrevendo sobre os filmes indicados. Já analisamos as primeiras páginas doroteiro de LOGAN e falamos sobre The Post – A guerra secreta.
O filme de hoje é “A forma da água” escrito por Guilherme Del Toro e Vanessa Taylor e dirigido pelo próprio Del Toro. O filme recebeu TREZE nomeações ao Oscar desse ano incluindo o de melhor filme e melhor roteiro original. E não é só a Academia que adorou o filme, “A forma da água” recebeu uma nota de 7,8 no IMDB e tem 92% de aprovaçãono Rotten tomatoes, além de vencer o festival de Veneza.






Sinopse

Em meados da década de 1960, Elisa (Sally Hawkins) é uma zeladora muda que trabalha num laboratório experimental do governo dos Estados Unidos onde um homem anfíbio (Doug Jones) está em cativeiro. Elisa e a criatura se aproximam, consequentemente se apaixonando e a zeladora elabora um plano para libertar seu amor das mãos dos homens que querem disseca-lo.

Uma fantasia durante a guerra fria

Além de ser um romance de ficção científica, A forma da água é uma fantasia que se passa na década de 60. Não só pela fantástica criatura do filme, mas a narrativa do filme é feita como uma fantasia. A começar pelas primeiras falas do filme que é narrada, como se alguém estivesse nos contando uma história de contos de fadas.

Giles/ Narrador
Se eu falasse sobre isso- Se eu falasse- O que eu lhe diria? Me pergunto... Te falaria sobre a época? Aconteceu a muito tempo atrás- Nos últimos dias do reinado de um justo príncipe. Ou eu contaria sobre o lugar? Uma pequena cidade perto da costa, mas longe de todo o resto... Ou eu falaria sobre ela? A princesa sem voz.

O diálogo segue por algum tempo na cena de abertura. Mas com isso já podemos perceber que o autor brinca com a forma como contos de fadas são contados: “Em uma terra distante, há muito e muito tempo...”. O filme que apesar de ser semelhante a ficção científica por causa da temática e ambientação é uma história de fantasia. A cena de abertura inteira se assemelha a uma fantasia.


O enredo também é semelhante a fantasia. Uma plebeia que se apaixona por um príncipe com características místicas. Um vilão que deseja matar esse príncipe. E uma jornada para os amantes se libertarem das garras desse vilão em rumo ao felizes para sempre. De certo ponto de vista, A forma da água é um conto de fadas que lembra “A bela e a Fera”  inspirado em "O monstro da Lagoa Negra" e "O fabuloso destino de Amélie Poulain" durante a guerra fria. 

Amor e preconceito

Uma das principais críticas do filme é o preconceito, acentuado pelo contexto histórico do filme, e a arrogância por parte da elite branca. O vilão do filme, Richard Strickland (Michael Shannon) é um completo boçal, do tipo que só lava a mão antes de mijar pois acredita que lavar as mãos antes e depois diminuiria sua masculinidade. Em um de seus momentos conversando com Elisa e sua fiel companheira de trabalho, Zelda Dalila (Octavia Spencer), vemos claramente como o vilão trata-as de forma superior, em especial Zelda por ser negra tentando sempre demonstrar ser mais culto e mais inteligente.


Sua inimizade com o homem anfíbio também tem origem em sua necessidade de autoafirmação. A criatura arrancou-lhe dois dedos e ele não admite isso. Quer, a todo custo torturar e dissecar a criatura para mostrar o quanto é superior.

Strickland não é o único preconceituoso no filme. Em uma cena onde o vizinho e amigo de Elisa, Giles (Richard Jenkins) parece estar se dando bem com um atendente da loja de tortas por quem nutre uma paixão não correspondida, vemos este proibindo uma família negra de sentar no balcão, expulsando-os da loja por ser um “ambiente familiar” juntamente com Giles após perceber suas reais intenções com o rapaz.


A questão de preconceito é acentuada pela temática do filme em que uma humana se apaixona e se relaciona com uma criatura de outra espécie, dentro de um contexto onde relacionamentos entre brancos e negros não era bem visto, algo que mesmo hoje vemosalguns criticando isso.

Um filme completo

De certa forma, o filme de Guilherme del toro pode ter agradado tanto a Academia por conter diversos elementos da sétima arte. Além de ser um drama de ficção-científica fantasiosa e romântica, o filme tem cenas picantes, bem-humoradas, suspense e até homenageia musicais. Tudo bem medido e bem utilizado para que não pareça uma bagunça completa.

Sem contar a excelente direção de arte, fotografia e figurino que são de dar inveja a qualquer profissional. O enredo é bem construído onde os elementos apresentados sempre tem alguma utilidade na trama.



A maneira como Del toro apresenta e constrói os personagens é espetacular, fazendo com que cada personagem tenha sua própria subtrama. O melhor é que cada uma dessas subtramas convergem para os eventos centrais, contribuindo para o andamento da história. Praticamente tudo o que acontece com os personagens move a história para frente, desde os conflitos políticos e científicos do Dr Hoffstetler/Dimitri (Michael Stuhlbarg), até a desilusão amorosa de Giles que o motiva a ajudar Elisa. Até mesmo as motivações escrotas do vilão de odiar aquela cidade é o que o motiva a acelerar as pesquisas, dissecando a criatura, para sair logo daquele lugar. 

Um resultado fantástico

Mesmo que para alguns possa parecer uma viagem total, “A forma da água” é uma história de amor fantástica. Uma releitura de “A Bela e a Fera” com menos presença de Walt Disney e mais de Guilherme del Toro. O resultado é um filme fantástico e místico. Guilherme del Toro dá uma aula de sotrytelling ao conseguir fazer o público sentir empatia e se apegar a personagens sem diálogo verbal enquanto consegue fazer-nos repudiar completamente o vilão.

A forma da água está concorrendo em treze categorias do Oscar e estreou nos cinemas nacionais na ultima quinta-feira (01). E é uma ótima sugestão par aquém quer ver uma bela história de amor com uma pitada de crítica à intolerância e preconceito. E você? O que achou do filme? Acha que ele merece quais prêmios do Oscar desse ano?

EDIT: Aparentemente "A forma da água" está sendo acusado de plágio pelo escritor americano David Zindel. O filme tem diversos aspectos semelhantes a uma obra de seu pai, Paul Zindel, chamada "Let me hear you whisper" de 1969.
Aparentemente Além do fato da faxineira muda que trabalha em uma instalação do governo se apaixonar por uma criatura marítima, diversos outros aspectos como eles se aproximarem através da comida e a cena dela dançando com o esfregão são semelhantes à obra de Paul Zindel.



Nenhum comentário:

Postar um comentário