Estamos iniciando mais um ano. Todos temos
em nossa consciência de que a virada de ano não muda nada. Não apaga todas as
coisas do ano passado e nos permite recomeçar do zero. Mesmo assim, é uma boa
marca para nos reinventarmos e planejarmos nossa vida. Começamos novas dietas,
definimos novas metas, prometemos coisas a nós mesmos que queremos mudar. Eu,
assim como todo mundo, também defini as minhas metas para esse ano (metas, não dietas).
No momento em que escrevo esse texto,
estamos na segunda semana do ano e quase tudo que planejei aponta que será um
fiasco. Não me admira que outros estejam vivendo a mesma coisa. É comum que
algumas pessoas desistam de seus objetivos antes mesmo da terceira semana do
ano, por que não aguentam os pontos negativos por passar por uma mudança. O
resultado é que ao final do ano, estamos insatisfeitos com nossos objetivos,
nossas vidas parecem destruídas e voltamos a nos planejar para o próximo ano na esperança de que o próximo seja realmente o nosso ano.
Tem algo muito importante que aprendi
sobre mudanças e metas a cumprir em nossas vidas: Se não passamos por momentos
muito ruins, significa que não estamos fazendo certo. Um amigo uma vez me disse
que arrumar nossa vida é como arrumar um quarto. Você bagunça sua cama,
colocando tudo da escrivaninha sobre ela para arrumar a escrivaninha. Depois bagunça
a cadeira para arrumar a cama. E assim vai bagunçando um para arrumar outro até
que tudo esteja arrumado. É exatamente assim que funciona as mudanças em nossas
vidas. Bagunçando tudo que arrumamos tudo.
Ano passado, decidimos reformar nossa casa
inteira. Planejamos, discutimos, debatemos até que enfim, meu pai começou a por
a mão na massa (literalmente). A primeira coisa que fez foi destruir nossa
cozinha inteira. Desmontar a sala e quebrar tudo que deveria ser quebrado. Esses
dias foram terríveis para mim e minha rinite. Sempre que eu limpava o quarto (o
que é meio raro, confesso) parecia que não adiantava nada, pois no dia seguinte
a poeira das reformas invadiam novamente meu aposento. Haviam dias em que eu
acordava, olhava para o chão cheio de lixo, poeira e com azulejos faltando e
pensava que eu vivia em uma casa abandonada. Foram tempos estressantes para
todos(ainda está sendo, pois faltam algumas mudanças).
Nessa mesma época, haviam muitas coisas em
minha vida que eu estava mudando. Comecei a frequentar uma nova igreja, o que
desde o inicio gerou alguns conflitos tanto internos como externos. Comecei a
investir numa carreira de roteirista e escritor, o que não está nada fácil. E
passei a vender trufas na esperança de juntar dinheiro para meu intercâmbio.
Perto do final do ano decidi que ia começar a gravar meus próprios curtas e encontrei um amigo
que também queria gravar curtas para conversarmos sobre isso e nos ajudarmos. Durante a conversa,
obviamente falávamos do que acontecia em nossas vidas. E cada coisa que eu
falava sobre a minha deixava-o mais deprimido. Quando disse à ele que podíamos
usar minha sala como um cenário de um mundo pós-apocalíptico ele disse: “Para!
Não fala mais nada por que já estou com pena de você”. Na hora eu não entendia.
Por que ele sentia pena de mim se, na minha perspectiva eu passava por um dos
melhores momentos da minha vida? Quando eu cheguei em casa naquela tarde e vi
minha sala e cozinha destruídas entendi o motivo. O que ele via é o que estava
acontecendo na minha vida enquanto o que eu via era o que estava se tornando
minha vida.
Se alguém olhasse para nossa casa, toda
destruída e bagunçada, provavelmente veria uma casa feia e mal acabada. Mas
para nós era um dos melhores momentos que vivíamos na casa. É assim que
funcionam as reformas. É preciso quebrar coisas para reconstruí-las de uma
maneira melhor. O mesmo funciona com nossas vidas. Ao tentarmos cumprir nossas
metas, quebraremos muitas coisas em nossas vidas. Passaremos por momentos
horríveis e tudo parecerá destruído em diversos momentos. No entanto, após esse
período conforme a reconstrução for evoluindo, logo vemos o que realmente pode
se tornar.
Terminamos as reformas da sala e da
cozinha pouco antes do natal e arrancamos elogios dos familiares e amigos nas
festas de fim de ano. A sala está linda, a cozinha confortável e minha rinite
finalmente me deu sossego.
O que leva muitas pessoas a desistirem de
reformarem suas vidas é que, quando tudo começa a complicar e ficar bagunçado,
elas se frustram. Se desapontam com o estado em que estão e param suas reformas
no meio. Mas isso só piora a situação. Ao pararmos no meio, tudo permanecerá
destruído pra sempre.
Você tem suas metas para o final desse
ano. Trace as medidas a serem tomadas e persevere. Lembre-se que muita coisa
terá de ser destruída até que você possa reconstruir. Dificilmente veremos
resultados nos primeiros meses, pois são nesses meses que estaremos destruindo
tudo. Logo, os primeiros meses serão horríveis. No meio do ano, é que as
reformas começarão de verdade e só no fim do ano poderemos dizer se fomos bem
sucedidos ou não. Algumas metas talvez serão cumpridas, outras não e outras conquistas podem ser atingidas, mesmo que não estivessem nos planos iniciais.
Então tenha coragem. Não tenha medo de
destruir ou bagunçar algumas áreas da sua vida. Siga seu planejamento mesmo que
tudo pareça péssimo. Vai ficar feio e triste de se ver, alguns dirão que
piorou. Mas não olhe para o agora, como eles fazem, mantenha o foco na meta. E
ao fim do ano, arranque elogios de todos. Tenha coragem e boas reformas.
Só para esclarecer: A imagem da casa nessa postagem não é da minha casa. Não tiramos fotos do antes e depois...
Nenhum comentário:
Postar um comentário