Esse ano definitivamente temos
muitos filmes que falam sobre racismo concorrendo ao Oscar. Isso é um tema central em "Corra" e em “A forma da Água” vemos um paralelo com relacionamentos inter-raciais, mas talvez
nenhum deles foi tão forte quanto “Mudbound, lágrimas sobre o Mississipi”.
Sinopse
Após a Segunda Guerra Mundial,
duas famílias, uma negra e uma branca dividem terras no delta do Rio Mississipi.
Henry (Jason Clarke) tenta viver seu sonho no campo enquanto Hap (Rob Morgan)
também luta por um pedaço de terra e dignidade. Em meio a esse cenário de
divisões raciais, os jovens soldados Jamie McAllan (Garrett Hedlund) e Ronsel
Jackson (Jason Mitchell) retornam da guerra e formam uma amizade desafiando a
realidade de onde vivem.
Contexto histórico e geográfico
Quando escrevemos uma história é
importante escolhermos bem onde e quando a história acontecerá. Assim tornamos
a história verossímil. Nesse ponto, Mudbound cumpre muito bem seu papel.
Primeiro a localização
geográfica. A história se desenrola na região sul dos Estados Unidos, onde a
libertação dos escravos foi mais tardia e houve mais resistência. Inclusive, a
região onde se encontra o estado do Mississipi é uma das que mais apresenta
casos de racismo nos Estados Unidos, segundo uma pesquisa.
Outro fato a ser considerado é o
contexto histórico. Não se trata apenas de se passar após a Segunda Guerra, mas
numa época em que negros e brancos não podiam dividir o mesmo espaço. Há,
inclusive, uma cena em que Ronsel é impedido de sair da loja pela porta da
frente, sendo obrigado a sair pelos fundos. Essa realidade acaba sendo um tanto hipócrita, visto que durante a segunda guerra, os aliados lutaram contra um homem racista que pregava a superioridade ariana, mas dentro do próprio país que lutou contra esse homem existiam leis que proibiam casamento entre racas diferentes.
A historia escrita por Hillary
Jordan Explora muito bem da localização e contexto histórico por onde se passa.
O racismo é pior que a guerra?
Mesmo abordando o tema de
segregação racial no filme inteiro, é apenas na metade, quando Jamie e Ronsel
voltam da guerra que a trama realmente flui e começa a ficar interessante. Apesar
do trauma de guerra e de provavelmente desejaram nunca mais irem para a guerra
de novo, a história mostra uma nítida diferença nas questões raciais dos
Estados Unidos em relação à Europa.
Durante os tempos de guerra, ambos
eram tratados como heróis. Ambos eram iguais, independente da cor da pele.
Ronsel, inclusive teve uma namorada alemã enquanto esteve na Europa. Mas, ao
voltarem para casa, os heróis de guerra encontram o mesmo ambiente de
segregação.
Ronsel, que era um herói bem
tratado na Europa, é tratado como lixo no Mississipi. E Jamie, além da
perseguição por ser amigo de um negro, é desrespeitado pela família devido seu problema
com álcool que desenvolveu graças aos traumas.
A guerra foi horrível para ambos,
mas o filme mostra como a vida racista e segregada do Mississípi pode ser mais cruel do que
a própria guerra, principalmente para Ronsel. É revoltante ver como um homem
que estava se sacrificando enquanto muitos sentavam-se confortáveis em suas
casas não tem o devido respeito que merece.
A primeira e ultima cena
Não cheguei a ler o livro
original, mas é interessante como os roteiristas, Virgil Williams e Dee Rees
escolhem abrir o filme com o que seria a última cena. Claro que esse filme não
é o primeiro e nem será o último a fazer isso. Mesmo assim, é interessante os
questionamentos que levantamos.
Na cena de abertura, Jamie e
Henry estão cavando uma cova para seu falecido pai (Jonathan Banks). Percebemos um empenho por
parte de Henry para honrar o pai, recusando-se a enterrá-lo em um tumulo de
escravos, e um descaso por parte de Jamie. E com o tempo durante o filme vemos
por que Jamie não da a mínima para o pai.
Quando a família de Hap aparece e
Henry corre para pedir ajuda, Laura e Jamie tentam impedi-lo. Vemos, claramente
uma tensão entre as famílias e nos questionamos por que a família de Hap está
partindo no meio da temporada de colheita.
O filme abre com essa sequencia,
para então nos contar o que aconteceu com essas famílias e com cada personagem.
Drama familiar
Mudbound é um drama sobre duas
famílias. Duas famílias ligadas pela lama de uma fazenda no delta do Mississípi. Há traição, preconceito, brigas, violência e lágrimas. A opção por
narrar a história através de diferentes pontos de vistas enriquece a história e nos ajuda a compreender melhor o psicológico dos protagonistas.
A trama se desenvolve lentamente,
em alguns pontos pode até ser entediante, mas culmina num momento tenso com
cenas fortes e cruéis, de certa forma torturantes.
O filme mostra como um ambiente
racista e segregado pode ser tão ruim ou pior do que a guerra e que não importa
seus feitos, negros continuam sofrendo algum tipo de preconceito.
Apesar de ser uma produção da Netflix
“Mudbound: Lágrimas sobre o Mississipi” ainda não está disponível no catalogo
brasileiro, mas estreou na última quinta-feira (15) nos cinemas nacionais e
está concorrendo em quatro categorias no Oscar. E você? O que achou de
Mudbound? Acha que ele leva algum Oscar esse ano?
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